Pesquisadores estimaram procedimentos eletivos e de emergência que, em situação normal, aconteceriam entre março e dezembro do ano passado
DA REDAÇÃO
Mais de um milhão de cirurgias eletivas e emergenciais podem não ter ocorrido no Brasil em 2020 devido à pandemia da Covid-19. É o que estima uma pesquisa do Programa de Cirurgia Global e Mudança Social da Harvard Medical School, publicada pela revista The Lancet Regional Health – Americas.
Com base no número de cirurgias feitas no país de 2016 a 2020, a partir do DataSUS, do Ministério da Saúde, os pesquisadores projetaram a quantidade de procedimentos cirúrgicos esperada entre março — mês em que começou a pandemia — e dezembro do ano passado.
Os pesquisadores compararam essa expectativa com os dados fornecidos pelos estados e concluíram que houve acúmulo de 1,1 milhão de cirurgias no ano passado. Dessas, 928.728 são consideradas eletivas, ou seja, não urgentes.
Dário Frederico Pasche, professor de saúde coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aponta quatro fatores que contribuíram para que tantos procedimentos se amontoassem.
“Sobretudo num primeiro momento, as pessoas evitaram ir ao serviço de saúde, por razões óbvias. Por outro lado, muitos serviços de saúde fecharam ou tornaram-se inviabilizados, porque alas importantes foram programadas para virarem leitos de Covid. E, por fim, em alguma medida, a gente produziu o que eu tenho chamado de “desassistência programada”, em que médicos e enfermeiros diziam às pessoas para não irem ao posto de saúde, cujos reflexos a gente sente agora nesses números”, destaca.
Desafio para os gestores
O especialista destaca que os gestores de saúde de estados e municípios devem se programar para atender às pessoas com procedimentos represados. “É óbvio que protelar isso por mais tempo, essas [cirurgias] eletivas acabam virando, de alguma forma, de urgência. E isso deve ser objeto de avaliação de cada um dos sistemas estaduais e municipais de saúde: quem são esses pacientes que estão na fila, fazer busca ativa, e as equipes de atenção básica da saúde têm um papel estratégico”, recomenda.
Fonte: Brasil 61