Delegado Manoel Vanderic Filho, titular da Delegacia de Investigação de Crimes contra os Idosos, fala sobre o cenário da violência contra o idoso em Anápolis
Por Priscila Marçal
O mês de junho ganhou um dia específico para lembrar a importância de combater a violência contra o idoso e por isso foi batizado como “Mês Violeta”. Hoje, 15 de junho, é o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, o delegado titular da Delegacia de Investigação de Crimes Contra Idosos, Manoel Vanderic Filho, disse que durante a pandemia esse tipo de crime aumentou muito em Anápolis.
“São diversos os casos que a delegacia atendeu desde o início da pandemia e os motivos são muitos. O isolamento social que forçou muitas pessoas a conviver mais tempo com os idosos dentro de casa é um dos principais motivos”, afirmou Vanderic.
Segundo o delegado, o desemprego atingiu a muitos na pandemia e isso fez com que a aposentadoria do idoso fosse a única fonte de renda de uma família. “Por causa disso, a aposentadoria foi desviada para outra finalidade que não fosse o bem estar do idoso e isso é crime de apropriação financeira indevida e abuso financeiro”, explicou, ressaltando que este foi o tipo de crime que mais cresceu no período da pandemia.
“A velhice é um fenômeno socialmente recente. Antigamente as pessoas morriam aos 50 ou 60 anos. Hoje, uma pessoa consegue chegar facilmente aos 80 anos e os mais jovens não tem memória coletiva de como lidar com os idosos dentro de casa”, analisa.
Segundo o delegado, os mecanismos de políticas públicas devem ser acionados para sanar essa dificuldade. O Centro de Referência Especializado em Assistência Social, CREAS, é uma das unidades públicas que desenvolvem ações para orientar sobre a boa convivência entre os mais jovens e os mais velhos. Dessa maneira, a delegacia interfere apenas quando há prática de crimes.
“Ainda assim devemos ser muito cautelosos. A postura da delegacia é tentar não impor ao idoso um sofrimento maior. Mais de 90% dos crimes praticados contra idosos é por filhos e netos, existe um vínculo emocional muito grande. Ouço relatos constantes dos idosos afirmando que nunca pisaram em uma delegacia na vida, então a prisão de um filho ou neto gera muito mais sofrimento para a vítima”, explicou.
“Assisto muitos idosos que vão para a porta de presídios para visitar seus agressores. Eles usam o dinheiro da aposentadoria para pagar advogados e tirar o agressor da prisão. Preferem conviver com o agressor do que ver ele preso”, complementa.
O delegado disse ainda que outra grande dificuldade é conscientizar a população de que a vontade do idoso deve ser respeitada. “Muitos idosos tem limitações físicas ou psicológicas, desenvolvem demência ou outras doenças mentais e os filhos e netos não sabem conviver com isso, por isso os encaminham para instituições de acolhimento”, lembrou o delegado, que ressaltou ainda que muitos dos idosos institucionalizados desenvolvem depressão e morrem mais rapidamente. “Às vezes é melhor deixar o idoso vivendo no casebre que ele construiu do que encaminha-lo a uma instituição. Precisamos ter prudência ao agir com essa população”.
O delegado lembrou, por fim, que neste dia 15 de junho, apesar de todas as limitações sociais citadas acima no combate à violência contra o idoso, a população não deve se eximir de sua responsabilidade de denunciar esses crimes. Isso pode ser feito no telefone 197 ou (62) 3328-2736.