Doenças cardiovasculares nas mulheres são negligenciadas no Brasil
Lideranças políticas e autoridades médicas participaram de amplo debate sobre a importância de se tratar o aparelho circulatório feminino
Especialistas que participaram de audiência pública no Senado Federal fizeram um importante alerta sobre a necessidade em se ter um olhar mais efetivo sobre as enfermidades cardíacas em mulheres. A audiência, feita em conjunto pelas comissões de Assuntos Sociais e de Direitos Humanos, marcou o Dia Nacional da Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher, iniciativa da senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Ela lembrou que a quantidade de mortes em razão dessas doenças representa mais do que o dobro das mortes por todos os tipos de câncer. Para a senadora, a audiência foi uma oportunidade de se conscientizarem mais pessoas sobre o tema.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares respondem por um terço das mortes de mulheres no mundo, com oito milhões e meio de óbitos por ano, ou seja, mais de 23 mil por dia. No Brasil, estima-se que mais de 30% das mortes de mulheres têm como causa esse tipo de patologia. O índice supera o de mortes por câncer de mama e de colo do útero. A diretora do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Viviana Lemke, presente na solenidade, alertou para algo que pode parecer óbvio, mas que, em muitas das vezes, não é lembrado. De acordo com a especialista, a mortalidade das mulheres é o dobro da registrada nos homens em caso de infarto agudo do miocárdio, o músculo do coração.
Causas e efeitos
Um dos fatores para que isso ocorra é o tempo de isquemia, ou seja, de falta de oxigênio no músculo do coração que, geralmente, é mais longo em mulheres. A médica explica que, além de demorarem mais para procurarem o atendimento, as mulheres apresentam sintomas diferentes dos apresentados nos homens, o que pode atrasar o diagnóstico. A mulher não valoriza o seu sintoma e, às vezes, não era só uma dorzinha, era um infarto. “As mulheres pensam em agradar a todo mundo. Elas primeiro cuidam do filho, da mãe, elas sempre estão à frente dos cuidados dos outros. Mas, a gente não pode esquecer: o coração da mulher precisa de cuidados”, lembrou Viviana Lemke.
A especialista informou que, nas mulheres, os sintomas de infarto são diferentes e muitas das vezes essa informação não é conhecida pelas pessoas. A dor no peito, braço e pescoço, que é típica nos homens, nem sempre, está presente nas mulheres, que sentem cansaço, palpitações, ou, respiração curta. Esses sintomas podem ser confundidos com crise de ansiedade ou outras doenças. Além dessa dificuldade de diagnóstico, a mulher sofre com fatores específicos, como ovário policístico, endometriose, menopausa e doenças na gravidez, como o diabetes gestacional e a pré-eclâmpsia. Além disso, a mulher sofre mais com fatores considerados subrreconhecidos, como assédio moral e sexual, discriminação, privação do sono e estresse crônico em função da dupla jornada, já que o trabalho doméstico, em muitas das vezes, não é dividido de maneira igualitária.
Por Nilton Pereira