Brasil enfrenta a pior seca dos últimos 91 anos. No entanto, o ministro descartou a possibilidade de racionamento e apagões
DA REDAÇÃO
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão para pedir o uso consciente de água e energia elétrica. O discurso completo está disponível no canal no MME no Youtube.
“Para aumentar nossa segurança energética é fundamental que, além dos setores do comércio, de serviços e da indústria, a sociedade brasileira, todo cidadão consumidor, participe desse esforço, evitando desperdícios no consumo de energia elétrica. O uso consciente responsável de água e energia reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada”, orienta.
Apesar de apontar a crise hídrica que o Brasil enfrenta atualmente – a pior dos últimos 91 anos, especialmente nas Regiões Sudeste e Centro Oeste -, Bento Albuquerque descartou a possibilidade de racionamento e apagões.
“Precisamos deixar claro que o Sistema Elétrico Brasileiro evoluiu muito nos últimos anos. Reduzimos nossa dependência das usinas hidrelétricas de 85% para a 61%, com a expansão das usinas de fontes limpas e renováveis, como eólica, solar e biomassa, além de termelétricas, gás natural e nucleares.”
Falta d’água
No início de junho, a Agência Nacional de Águas (ANA) publicou uma Resolução decretando situação crítica de escassez de água na Região Hidrográfica do Paraná, até 30 de novembro de 2021. A situação é preocupante, já que essa é a região mais populosa e de maior desenvolvimento econômico do país e, por isso, possui maior demanda por recursos hídricos. A Região Hidrográfica do Paraná abrange os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Distrito Federal.
O especialista em construções sustentáveis, Allyssom Marques, engenheiro da AMG engenharia, ressalta que, além do provimento das cidades, essa região é responsável pelo abastecimento da segunda maior hidrelétrica do mundo: a Itaipu.
“A situação no país inteiro, hoje, é considerada crítica, mas uma atenção especial deve ser dada à região central do país, onde a previsão é de seca para os próximos meses. A região é extremamente significativa, já que nela se inicia a bacia do Rio Paraná, que é importante tanto para o abastecimento de água potável nos municípios, como também da hidrelétrica de Itaipu.”
No site da ANA é possível acompanhar boletins com a situação diária da Bacia do Rio Paraná.
Desperdício
Em junho, o Instituto Trata Brasil divulgou um estudo sobre a perda de água potável no Brasil, suficiente para abastecer 63 milhões de pessoas, cerca de 30% da população brasileira. O levantamento foi feito com base nos dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, ano base 2019) e mostra que quase 40% de toda a água potável captada não chega de forma oficial nas casas dos brasileiros.
De acordo com a pesquisa, o volume desperdiçado seria mais do que suficiente para abastecer os quase 35 milhões de brasileiros que atualmente não possuem acesso à água nem para lavar as mãos, em plena pandemia de coronavírus.
O presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, detalha os motivos das perdas na distribuição de água potável.
“Os vazamentos são responsáveis pela maior parte desse indicador. São tubulações muito antigas, redes de água muito velhas, que precisariam ter sido trocadas ao longo dos anos e não foram. Mas também tem o roubo de água, as fraudes, a falta e erros de medição, medidores e hidrômetros muito antigos.”
Além dos prejuízos no abastecimento, Édison Carlos ressalta os impactos ambientais ocasionados pelas perdas no processo.
“A água potável já passou por um processo industrial: foi retirada da natureza; nela foram adicionados produtos químicos; precisou de eletricidade para ser bombeada. E depois que é perdida, é um impacto ambiental muito grande retirar mais água da natureza do que o necessário, ainda mais num momento de poucas chuvas e baixos reservatórios como nós estamos vivendo hoje”, explica.
“As perdas de água potável também impactam no faturamento das empresas de água e esgoto, porque elas gastam os recursos, pagam salários, eletricidade, produtos químicos e, para pagar tudo, elas precisam receber pela tarifa dessa água quando chega nas residências. À medida que a água não chega, as empresas perdem faturamento”, acrescenta Édison Carlos.
Com a aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento, o combate às perdas de água passa a ser obrigatório.
“Então, todos os contratos entre as cidades e as empresas têm que passar por uma agência reguladora, que vai olhar se existem cláusulas de combate às perdas e se não existir, tem que constar. Os gestores públicos também precisam ajudar as companhias, porque uma parte importante das perdas é causada por furto e o combate a essa fraude precisa do apoio da prefeitura, da polícia, dos órgãos de repressão.”
Todos fazem sua parte
Nas redes sociais do Ministério de Minas e Energia, a pasta recomenda que a população tome atitudes simples em casa e no comércio para economizar energia e água, como desligar todas as luzes e equipamentos, antes de sair de casa; não demorar com a porta da geladeira aberta; desligar o ferro de passar quando não estiver usando; reduzir o uso do ar-condicionado; fechar bem as torneiras; tomar banhos mais curtos, entre outras medidas conscientes.
O engenheiro Allyssom Marques afirma que é papel dos gestores municipais conscientizar a população sobre a importância do uso consciente dos recursos.
“O que realmente deve e pode ser trabalhado são políticas de conscientização da utilização do recurso junto à população, além de adoções, em proporções possíveis, de sistemas de aproveitamento de água nas instalações municipais, por exemplo.”
Segundo o especialista em construções sustentáveis, o sistema de aproveitamento de água da chuva é simples e relativamente barato de ser instalado. “Além de ter um custo de investimento inicial relativamente baixo, ele pode ser instalado em projetos de pequeno e grande porte, tanto residencial, comercial ou industrial. Em uma residência unifamiliar, por exemplo, o custo de implantação é de cerca de R$ 7 mil, gerando uma economia de até 50% em volume de utilização mensal”.
Fonte: Brasil 61