O cabotegravir é uma profilaxia pré-exposição; ainda não há nenhuma divulgação sobre a comercialização no Brasil
DA REDAÇÃO
A Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenção do HIV no Brasil, o Cabotegravir, que será mais uma opção de profilaxia pré-exposição (PreP), ou seja, uso contínuo de medicamentos antirretrovirais para pessoas com maior risco de contaminação. A autorização foi dada à empresa GlaxoSmithKline (GSK) e foi publicada no Diário Oficial da União na última semana.
Atualmente os medicamentos à disposição do público são comprimidos de uso via oral. A principal diferença é que esse novo medicamento é administrado primeiramente com duas injeções iniciais com um mês de intervalo e, depois disso, a cada dois meses. Ou seja, em vez de 365 doses anuais, seriam apenas seis.
No Brasil, a infecção pelo HIV é considerada estabilizada, porém, ainda em patamares elevados. Trata-se de uma condição crônica que pode ser controlada por meio do diagnóstico oportuno e do tratamento, para que as pessoas que vivem com o vírus tenham mais tempo de vida, melhor e não transmitam HIV por via sexual. Em artigo publicado na Folha de São Paulo, o médico Drauzio Varella disse que a droga pode revolucionar a prevenção da Aids e diminuir 90% do risco. As pesquisas mostraram que de janeiro de 2017 a novembro de 2020 ocorreram 40 infecções pelo HIV: quatro delas no grupo que recebeu cabotegravir; 36 no grupo tratado com TE. Portanto, o cabotegravir reduziu 88% do risco em relação às que tomaram um comprimido diário de TE. “É um medicamento seguro, bem tolerado, capaz de manter sua ação inibitória por oito semanas, contadas a partir de uma injeção de 600 mg pela via intramuscular”, disse o especialista. Entretanto, Drauzio ressaltou que cada dose de cabotegravir custa US$ 3.700, nos EUA, preço que inviabiliza seu uso em quase todos os países.
Segundo Marcelo Daher, médico infectologista, são significativos os avanços que a ciência e a tecnologia trouxeram para o combate ao HIV. “Conhecer a sorologia positiva de forma precoce aumenta muito a expectativa e a qualidade de vida de uma pessoa que vive com o vírus. O tratamento antirretroviral é garantido para todos, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e certamente com esse novo medicamento aprovado, os índices de transmissão e cuidado com o HIV serão melhorados, mas ainda há os próximos desafios de produção e liberação gratuita”, explica. Para se ter uma ideia, em 2021, 40,8 mil casos de HIV e outros 35,2 mil casos de Aids foram notificados no Brasil por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/aids do ano passado. Somente em 2021, mais de 11 mil óbitos foram registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) em decorrência do agravo, com uma taxa de mortalidade padronizada de 4,2 óbitos por 100 mil habitantes, índice que sofreu decréscimo de 26,4% entre 2014 e 2021. Quem se testa com regularidade e busca tratamento no tempo certo, ganha muito em qualidade de vida. “Hoje, exames laboratoriais e testes rápidos detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Estes testes são realizados gratuitamente pelo SUS, nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA)”, finalizou Daher.