Segundo especialistas, o País está longe de alcançar meta de erradicação do analfabetismo em 2024
DA REDAÇÃO
Neste próximo sábado (14), o Brasil celebra o Dia Nacional da Alfabetização, data comemorada há mais de 50 anos com o objetivo de difundir a importância da leitura e da escrita. Um dia que deveria ser celebrado mas ainda mostra números relevantes de brasileiros analfabetos. Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Educação, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11 milhões de cidadãos com 15 anos ou mais ainda não sabem ler e escrever. Entre 2018 e 2019, a taxa de analfabetismo teve uma leve melhora, passando de 6,8% para 6,6%.
Emocionada, Rita Romão de Brito, 54 anos, moradora do Riacho Fundo 2, região administrativa do Distrito Federal, lamenta o fato de não saber ler e escrever. O que mais incomoda a dona de casa é ter que depender de outras pessoas em situações simples, como obter informações no banco.
“É difícil tenho que depender dos outros. Existe muita maldade. Algumas pessoas te passam para trás. Eu por exemplo, em certas situações, faço a mesma pergunta para mais de uma pessoa”, lamenta.
Aproximadamente 12 quilômetros de onde vive dona Rita, em Taguatinga, Maria Clara Falcão, 6 anos, vive uma realidade bem diferente. A pequena foi alfabetizada com 5 anos e tomou gosto pela leitura. “Quando aprendi a ler comecei com gibis e outras histórias e fiquei super feliz. É muito legal na escola! Gosto muito de desenhar também!”
Mas, infelizmente, essa não é a realidade de muitos brasileiros e assim como Rita muitas pessoas são analfabetas. Fazendo um recorte por regiões, é possível constatar uma enorme disparidade entre as taxas de analfabetismo em pessoas acima de 15 anos. Nas regiões Sul e no Sudeste, o índice é de 3,3%, o Centro-Oeste aparece em seguida com uma taxa de 4,9% e a região Norte, 7,6%. Já na região Nordeste o percentual é de 13,9%.
Entre os brasileiros com 60 anos ou mais, os índices de analfabetismo são ainda maiores, alcançando 9,5% na Região Sul; 9,7% no Sudeste; 16,6% no Centro-Oeste; 25,5% no Norte; e 37,2% no Nordeste.
A questão racial também tem grande impacto entre as pessoas que não sabem ler ou escrever. Enquanto a taxa de analfabetismo entre brasileiros da cor branca com 15 anos ou mais é de 3,6%, na população preta ou parda o índice alcança 8,9%, de acordo com o IBGE.
Segundo o especialista em Educação, Afonso Galvão, a situação da Educação Básica no País ainda é precária. Ele afirma que é preciso um enfrentamento maior contra o analfabetismo. “Não sei se há muito o que comemorar. O que esses dados mostram é uma situação da Educação Básica que ainda é precária em termos de qualidade e que, quantitativamente, não atende a maior parte da população”, explica Galvão.
Meta
Em 2014, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE), que tem entre as metas erradicar o analfabetismo a pessoas de 15 anos ou mais até 2024. A iniciativa também tem o objetivo de reduzir à metade a taxa do analfabetismo funcional.
O presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia, defende ações mais integradas do Governo Federal com estados e municípios. Segundo ele, no ritmo em que o problema vem sendo enfrentado, pode demorar mais de um século para que o analfabetismo seja erradicado no Brasil.
“O recuo de 0,2% [entre 2018 e 2019] é um sinalizador que mostra que o País não vai conseguir vencer o analfabetismo mesmo daqui a 100 anos.”
Analfabetismo funcional
Outro gargalo a ser enfrentado pelo poder público brasileiro é reduzir o número de analfabetos funcionais. Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado em 2018, pesquisa idealizada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, com apoio do Ibope Inteligência, 30% dos brasileiros integravam esse grupo. São considerados analfabetos funcionais, por exemplo, pessoas com dificuldades em interpretar textos simples ou resolver problemas matemáticos cotidianos.
Outro lado
A reportagem do portal Brasil61.com entrou em contato com o Ministério da Educação para obter informações sobre investimentos e medidas que estão sendo tomadas para combate ao analfabetismo, porém não obteve resposta.
Fonte: Brasil 61